terça-feira, 15 de março de 2011

Vice-prefeito expõe crise política em Cubatão

Rompido desde o ano passado com a prefeita Marcia Rosa (PT), o vice-prefeito de Cubatão, Arlindo Fagundes, assinou a sua ficha de filiação ao PSDB no último domingo. Agora oficialmente na oposição, ele já se coloca como pré-candidato à disputa pelo comando do Executivo cubatense em 2012.

Em entrevista exclusiva, ele afirma que é perseguido politicamente, está com o seu telefone grampeado e foi seguido várias vezes por pessoas supostamente ligadas ao governo petista. O vice contou também alguns fatos que levaram ao seu rompimento com o governo atual. Leia a seguir os principais trechos da conversa.
“Ontem nos demos um passo que você falou, que foi a filiação, desfiliar do PSB. Houve uma negociação entre os dois partidos. Com o deputado Marcio França e com o Ademário no sentido da minha liberação devido à questão da fidelidade partidária já não havia espaço para mim dentro do PSB há algum tempo. Algumas pessoas dentro do PSB se incomodavam”.

”Achavam que eu tinha um poder muito grande junto à Administração e que na realidade eles queriam cargos dentro do governo. Mas na realidade eu não tinha esse poder todo até porque eu fui excluído logo no início. Mas as pessoas do PSB achavam que eu tinha essa condição e me cobravam. Mas como eu não tinha esse poder todo, algumas pessoas ligadas ao partido começaram a tentar me fritar”.
Quem são eles?
Uma pequena parcela do PSB. Pessoas que não têm nem muito poder. E eu não quero falar mal do partido. Agiram sob o comando do ex-chefe de gabinete da prefeita (Gérson Rozo) e eu acredito que a própria prefeita. No início do governo dela falaram assim: Olha, o vice-prefeito não pode dar muito espaço para ele. Eles sempre tiveram o receio de que eu pudesse crescer.
Bom, o PSDB me convidou. O Ademário me convidou, o Edmur (Mesquita), o Raul (Christiano) e outras pessoas do partido. A gente vem conversando há quase um ano. É um partido grande. Que sempre almeja o poder. Ontem nós tivemos uma convenção e demos uma lição para todo o mundo de união.
Chegando lá na convenção já estava pré-determinada a minha assinatura de filiação. A partir de hoje a minha vida é o PSDB. Estou muito feliz. Nunca me senti tão bem recebido como fui no PSDB. Tanto pelo Ademário, que é o meu amigo pessoal. Pelo Raul. Parecia que estava retornando para a minha casa, de onde nunca deveria ter saído. Como se meus pais, meus irmãos, meus amigos tivessem me aguardando para me receber no PSDB.

Se filiou ao PSB em 1999; vereador de 2001 a 2004. O objetivo do PSDB é buscar a eleição de 2012 com a minha pré-candidatura a vereador.

Sua intenção é comandar o Palácio Piaçaguera?
Na realidade o que nós queremos é administrar a nossa cidade. É levantar a auto-estima da população que está muito baixa. Eu não quero criticar o governo que está aí. Quem tem que criticar e achar ruim é o povo. Eu tomei a minha decisão e a minha decisão é que é um governo ruim. É um desgoverno.

Por que é ruim?
Porque em um governo você tem de respeitar as pessoas. Respeitar o funcionalismo. Respeitar a população. Cumprir aquilo que você promete. Existem documentos firmados que não foram cumpridos.

Pode citar algum?
Um deles é o acordo que foi firmado, por escrito, entre o PSB e o PT. Foi assinado por mim. Presidente do partido, o Moacir (ex-presidente do PT), a prefeita. E os três vice-presidentes do PSB, que eram o Toninho Ribeiro, o vereador Dédinho e a Marilda canelas.

O que dizia esse documento?
Ele traçava uma linha de como o governo deveria trabalhar na Educação, na Saúde; sem vim gente de fora. Está no documento que não viria gente de fora. Era somente gente de fora. Buscar, no primeiro momento, dar uma cara nova para Cubatão. Mas o que estamos observando é exatamente o descumprimento de tudo isso. Na Saúde faltam medicamentos, está mal administrada. Já é o terceiro secretário que troca.

Tirando o doutor Vandejacson, que a gente tinha mais ou menos um conhecimento, são pessoas que a gente não sabe de onde vem. São pessoas que vêm de outras cidades para que cá que e não as conheço.

Então, houve o desrespeito à minha pessoa. Por várias vezes durante um ano eu tentei participar do governo. Colocar em prática aquilo que estava estabelecido no plano de governo. Porque eu tinha sido coordenador geral da campanha; tinha sido presidente da comissão de transição e quando acabou tudo era simplesmente um vice-prefeito.

Começaram a tomar decisões contra o funcionalismo. E em um dos pontos desse acordo que eu falei era a defesa do funcionalismo, plano de carreira, reforma administrativa. Não é uma reforma criando um monte de secretarias, mas enxugando a máquina, dando condições da máquina funcionar bem. Valorizar o funcionário. Aprimorá-los com cursos para melhor atenderem a população. Modernizar a máquina pública. Dar uma geral na cidade. Reforma das calçadas, novas escolas, creches. Buscar incentivos para novos investimentos para Cubatão...
Mas percebi que eu era um instrumento qualquer.Várias vezes que eu fui até o gabinete e eles estavam reunidos (a prefeita e a sua cúpula de governo) e na hora que eu chegava todos paravam de conversar . Eles diziam tudo bem vice-prefeito e aquela conversa não tinha continuidade. Ficava claro que eu não era bem-vindo.

Você participava das grandes decisões do governo?
Não. Nunca participei. Até porque nunca fui chamado. Eu que me oferecia. Às vezes ia lá, apagava um incêndio aqui, resolvia outro problema ali. Não posso reclamar que ela deixou de me receber. Ela sempre me recebeu, mas não me ouvia. Eu falava aqui, saía do outro lado. Poucas vezes ela me ouviu. Cito o caso da Apae, que eu tentei várias vezes resolver. E o caso das escolas de samba (em 2009), que foi uma solução que nós buscamos junto com a Marilda (que era secretária de Cultura, e ela me atendeu. Fora isso, as coisas que a gente colocava ela ia de um lado para outro e nada resolvia. Várias vezes eu falei para ela que a cidade estava ruim, mas de prático ela não fazia nada.

Na questão da reforma administrativa eu alertei que estava errada. A reforma não foi feita pelos técnicos de Cubatão. Ela veio pronta de outro lugar. Veio do PT de outras regiões e quando chegou aqui fizeram a gente engolir. Extinguiram regionais que não deveria extinguir. Regionais das cotas , por exemplo. Lá está havendo um processo que deveria ter um elo com o município. O Jardim Casqueiro foi abandonado. Pode dizer que criou coordenadorias, mas isso não funciona. Tem de ter estrutura. O próprio MP alertou que estava irregular e ela peitou.

Ela viajou três vezes para Europa e Estados Unidos e eu fiquei sabendo pelos jornais. Eu não falo com ela desde fevereiro de 2010. A última conversa foi sobre a questão do Carnaval de 2010. No desfile de 7 de setembro, ela fez tudo para conversar comigo.

Você então acha que a cúpula que fica envolta da prefeita foi responsável pelo seu afastamento do governo?
Ela é a culpada disso. E ela sabia disso porque eu falei para ela. Veio uma ordem do gabinete dizendo o seguinte: 'tudo que o Arlindo pedir não é para atender'. Cito o exemplo do Vale Verde, onde teve um torneio de futebol. Estava tudo abandonado (o campo de futebol) e um cidadão que estava organizando me procurou e eu pedi para um funcionário da Prefeitura fazer esse serviço. E esse funcionário só não foi exonerado porque ele é um excelente funcionário. E eu sei que a ordem partiu lá de cima.

Essa ordem veio depois de o senhor rachar com o governo?
Não. Isso aconteceu bem antes. Eu sempre me coloquei à disposição para ajudar o governo. Mas o governo não quis a minha ajuda. Para eles o Arlindo não é importante. Até porque eu não concordo com muita coisa que está sendo feita. Eles sabiam que eu não concordava e decidiram me afastar.
Quem são essas pessoas que arquitetaram e comandaram o seu isolamento?
Tem muita gente. Toda a cúpula que fica em volta dela arquitetou isso. Mas não vou citar nomes. Quando eu comecei a me manifestar sobre alguns assuntos como a questão do estacionamento, sobre a questão da APAE, em momento nenhum ataquei a prefeita, apenas sugeri que ela revogasse uma ordem de serviço absurda como aquela, que acabou sendo revogada, a primeira coisa que ela fez foi retirar o meu motorista, que todos os vice-prefeitos tiveram.

Eu não faço questão alguma de ter motorista, mas aquilo foi uma forma dela mostrar que ela mandava, que ela tinha o poder. Isso pra mim é um poder de gente frágil. Quem toma uma decisão dessa é muito pobre de espírito. Ditadores é que fazem isso. Só ditadores tomam decisões assim. Para mostrar que têm poder, “que eu posso”.
Pessoas que se dedicaram na campanha foram alijadas do processo todo. Eu posso citar a Marilda Canelas, o Oswaldo Jordão, a Erenita o Juliano que acabou saindo porque, graças a Deus, passou em um bom concurso. As pessoas que realmente ajudaram a construir um governo para a cidade de Cubatão foram esquecidas porque não eram mais importantes. Elas só foram importantes até a eleição.
 
Como você está agora?
Estou muito tranquilo. Muito calmo. Estou saindo do PSB de cabeça erguida. Eu peguei um partido sem CNPJ, devendo. Nós reorganizamos o partido. Elegemos dois vereadores e um vice-prefeito. Agora o PSB segue a vida dele e eu sigo a minha no PSDB. Desejo sorte para todos eles e até para a prefeita.

Você ainda acredita que ela vá fazer um bom governo?
Eu não acredito que ela vá fazer um bom governo. Porque se você troca seis secretários de finanças; quatro secretários de administração, três secretários de Saúde; três secretários de meio ambiente; três secretários de Cultura; dois secretários de Assistente Social, dois secretários de esporte, alguma coisa está errada. Que governo é esse. O que  está errado? É a parte central. É o eixo da coisa que não está certo. Tem um comando que não está funcionando.

É impossível que você em dois anos troque tanto secretários assim. Não existe governo nenhum que resista. Não existe cidade que consiga governar nessas condições. Você tem que escolher as pessoas certas para o lugar certo. E o pior é que você trás pessoas de outras cidades que não têm conhecimento algum de Cubatão. A Poli USP para Cubatão...

Essas coisas todas vão se acumulando, essa falta de respeito. Agora mesmo, o que fizeram comigo, sobre o meu subsídio de vice-prefeito, eu sei que tem a mão dela por trás e de outras pessoas ligadas a ela que é uma falta de sensibilidade e de responsabilidade que não tem tamanho.

O promotor recebeu uma denúncia de um cidadão da Vila dos Pescadores que é um laranja. Alguém teve a ideia de pegar um cidadão coitado que nem sequer sabe ler. Fizeram uma carta no computador, colocaram algumas palavras erradas, mas no final usaram termos que uma pessoa comum não tem consciência e nem sabe quais são os significados daquelas palavras.

O cara nem me conhece. Ele não sabe se sou aposentado ou não da Prefeitura. Se recebo subsídio ou não. Até porque essa é uma prática que já vem do Clermont, Pinheiro, Zachini, Jaime Ruivo, todos eles estavam na mesma situação. Só que eles não eram o Arlindo Fagundes. Eu tenho certeza de que foram eles (gente ligada ao governo) que pegaram esse cidadão e fizeram a denúncia para o Ministério Público. O MP não me notificou. Pediram cópia dos meus holerites da Caixa e do meu subsídio de vice-prefeito. Claro que se juntar os dois passa do teto constitucional. Mas a questão não é essa.

A questão é criar um sensacionalismo para manchar o meu nome. Mas eles não vão conseguir isso. Tenho uma biografia, uma vida nessa cidade construída com muito trabalho e respeito pelo povo. Tiraram cópia da correspondência do promotor falando para suspender o meu subsídio e mandando e suspender o meu subsídio. Na realidade isso é perseguição política. O promotor mandou uma correspondência para mim no dia 17 e até hoje eu não recebi.

Você está esperando que essa perseguição aumente?
É claro que a gente está esperando que eles virão com coisas semelhantes. A partir de agora, quando a gente se coloca como uma via de oposição mesmo ao governo a perseguição virá. Vão começar a surgir comentários boatos. Eles são campões em boatarias. Eu também tenho os meus instrumentos. Toda ação tem uma reação. Eu não quero atacar o governo. Não quero falar o que eu sei. Estou com o meu telefone grampeado. Fui seguido várias vezes por um carro que não sei de quem é. E eu não tenho medo de nada disso.

E o senhor acha que tudo isso é pelo seu posicionamento de oposição?
Com certeza.

E são pessoas ligadas ao governo?
São pessoas ligadas ao governo e com interesses no governo. Para eles eu sou uma pedra no sapato.

E agora que você está no PSDB, como pretende trabalhar?
Eu sou um cara tranquilo, graças a Deus. Dou agora sequência de nosso trabalho no PSDB. Tenho os meus objetivos. Vamos fazer o nosso trabalho, vamos elaborar o nosso plano de governo. Vamos trazer as pessoas de bem. Vamos formar um movimento com as pessoas de bem de nossa cidade. Vamos formar um movimento com as pessoas de bem de nossa cidade. Tomo a liberdade de pedir que as pessoas de bem venham nos procurar. Venham em direção do PSDB. Para que possamos retomar nossa cidade, reorganizar a nossa cidade. Porque Cubatão não aguenta mais caminhas pelos caminhos que está caminhando hoje.

Quais são os três erros que, na sua opinião, aconteceram no governo Marcia Rosa que, em hipótese alguma, você deixaria acontecer em um eventual governo seu?
Vaidade. Ela é uma pessoa muito vaidosa. Autoritarismo. Vingança. Eu não sou vingativo. Não sou autoritário e não sou vaidoso. Eu nunca penso no eu. Penso no nós. Eu poderia citar mil. Mas esses são os cruciais. As pessoas têm de entender que o prefeito é eleito para administrar uma cidade e não mandar na cidade. O prefeito está ali representando o anseio da população. Não para tomar decisões isoladas como se fosse dono da cidade. E é assim que a prefeita age. Como se fosse a rainha da cidade de Cubatão.

Fonte: A Tribuna Digital

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